sábado, 23 de abril de 2011

Opinião - De Columbine a Realengo

Autor de best-seller sobre massacre em colégio nos EUA fala do período posterior ao crime ocorrido há 12 anos

Leonardo Cazes


RIO - A Columbine High School, nos EUA, e a Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, estão a milhares de quilômetros uma da outra, mas foram aproximadas por tragédias parecidas.Nesta quarta-feira (20), terão se passado 12 anos desde que dois alunos do colégio americano mataram 13 pessoas na escola; e 13 dias desde que o Wellington Menezes de Oliveira assassinou 12 alunos da instituição onde ele estudou. Segundo Dave Cullen, jornalista do "New York Times" e autor de um livro sobre o crime de 1999, é cedo para saber como os sobreviventes da Tasso da Silveira vão se recuperar do impacto do massacre. Mas o que aconteceu depois do horror em Columbine pode dar pistas disso.


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- O ensino médio de quem sobreviveu nunca mais foi o mesmo. Depois do que aconteceu, os estudantes falavam sobre isso sempre que se encontravam. Ao entrar na faculdade, ninguém dizia que era de Columbine. Falavam simplesmente que eram de Colorado (estado americano onde fica a escola) ou dos arredores. Quando saíam do colégio, eles queriam deixar a tragédia no passado - conta o autor do best-seller "Columbine" (2009), não lançado no Brasil. - Agora, a grande maioria conseguiu superar isso.

Os adolescentes Eric Harris e Dylan Klebold deixaram uma marca profunda na vida dos outros 2 mil estudantes. Cerca de dez dias após o massacre, os alunos voltaram às aulas, mas num colégio próximo, e em meio expediente. A polícia só liberou Columbine depois de dois meses, e muita coisa estava fora do lugar. Das 25 saídas da escola, restaram apenas cinco. Pais de alunos trabalhavam como voluntários em cada uma delas para controlar a entrada e saída dos estudantes. As mochilas eram revistadas todos os dias (e ainda são), para tentar evitar um novo e eventual ataque.

Várias medidas de segurança foram adotadas, mas Cullen ressalta que, ao longo dos anos em que acompanhou a escola em Columbine, viu as regras se flexibilizarem. E acha que é inútil transformar escolas em prisões de segurança máxima. Todos respeitam por alguns dias e depois...

- Adolescentes são adolescentes. Passados os anos, ninguém pensa mais que entrará outro atirador na escola. E as coisas voltam a ser como eram - comenta o jornalista.

Ainda de acordo com o autor, uma série de rumores encheu os corredores da escola de medo. Ele conta que, quando as aulas por lá recomeçaram, boatos davam conta de que amigos dos atiradores estavam planejando "terminar o serviço" dos dois. Vários estudantes passaram dias sem ir às aulas.

No memorial onde 15 cruscifixos foram colocados para lembrar os 13 mortos, e também os assassinos, um pai, revoltado, destruiu as duas cruzes com um machado. Ao final da temporada regular de basquete, o craque do time de Columbine se suicidou na garagem de casa, e foi encontrado pelo pai. Outros dois estudantes foram assassinados no metrô.

Diferentemente de Realengo, Cullen explica que, no caso de Columbine, a polícia só liberou o acesso a provas fundamentais do crime sete anos depois. E as evidências desmentiram a tese de que os assassinos eram antissociais.

- As pessoas diziam que eles sofriam bullying, eram vistos como perdedores, não tinham amigos... Quando li a agenda dos dois, vi que eles levavam vidas de adolescentes normais. Eric, por exemplo, não tinha nada de baixa autoestima. Ele era como um psicopata, e tinha uma confiança elevadíssima. Achava-se melhor que todo mundo - explica o jornalista, que morava perto de Columbine, mas hoje vive em Nova York.

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