terça-feira, 19 de abril de 2011

Educadores divergem sobre uso de uniformes nas escolas

O colégio Dom Bosco oferece 50 modelos de uniformes aos alunos

Alunos costumam odiar, os pais geralmente adoram. Entre os educadores, o uso do uniforme escolar também gera polêmica, já que é possível enumerar tantos aspectos positivos quanto negativos quando o assunto são as roupas iguais na sala de aula.

Para Francisca Paris, diretora pedagógica da divisão de sistema de ensino da editora Saraiva, o uniforme ajuda os estudantes a se adequar ao ambiente escolar. "Às vezes o jovem não tem muito claro qual a vestimenta apropriada, outras vezes quer impressionar os colegas com a sua roupa", afirma. O ponto positivo, segundo ela, é que trajes justos, curtos ou desconfortáveis não fazem parte do local de estudo quando todos se vestem igual.

O psicanalista Teuler Reis concorda com essa adequação das roupas ao ambiente escolar. Segundo ele, impor limites em relação à vestimenta ajuda a mostrar aos estudantes que nem sempre na vida poderão fazer tudo que quiserem. "Estamos inseridos dentro de regras, leis", afirma.

Já o padre Guido Kuhn, diretor do colégio Anchieta, de Porto Alegre (RS), que não obriga o uso do uniforme, afirma que a escola optou pela liberdade de escolher a roupa por acreditar que esta também é uma forma de ensinar o estudante a tomar decisões em sua vida. "Desejamos um formato educativo e formativo em que o aluno vai percebendo aos poucos que tipo de traje se usa nos mais diversos ambientes, da igreja à festa", conta.

De qualquer maneira, quando os alunos fazem a matrícula, recebem um documento com orientações amplas sobre o tipo de roupa adequada para aquela nova etapa, em que são frisados o respeito, a simplicidade e o asseio. Ainda assim, o Anchieta mantém uma linha de uniformes, que é apenas recomendado em vez de obrigatório. As crianças com até 10 anos costumam usá-lo, pela praticidade para os pais e, curiosamente, porque os pequenos gostam. Já é uma espécie de moda nos corredores. Porém, é só chegar a pré-adolescência para as roupas com o logotipo do colégio serem esquecidas no fundo da gaveta.

Adolescentes
Para solucionar esse embate entre adolescentes versus uniforme, muitas escolas permitem roupas comuns quando os estudantes chegam ao Ensino Médio. No colégio Módulo, em São Paulo, exceto quando há educação física, os alunos podem ir para a aula de calça jeans com uma camiseta que tenha o nome da instituição.

No colégio Dom Bosco, em Curitiba (PR), o jeans também é permitido entre os mais velhos, e só são proibidas camisetas de time. "Eles já estão em uma fase de se preparar para o mundo, então devem lidar com as escolhas sobre a sua própria roupa. Porém, não é porque não usam uniforme que podem se vestir de qualquer jeito. Existem regras", afirma Celia Bitencourt, diretora da sede Batel.

No entanto, até a decisão de liberar os mais velhos é polêmica. Francisca acredita que permitir que algumas séries não vistam a roupa do colégio não é a melhor saída, já que se corre o risco de dar ao uniforme um tom pejorativo, taxado de roupa de criança, já que os mais velhos estariam livres da regra. Segundo a especialista, uma alternativa é oferecer várias cores de camiseta. "Aí o estudante tem a ideia de que ele está escolhendo a sua roupa", diz.

A ideia de Francisca, na verdade, já chegou a diversas instituições do País. Diversificar e modernizar o uniforme têm sido a solução para contentar os estudantes. "As roupas vêm mudando, os uniformes têm que mudar também", afirma Maria Paula Nicolini, coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental I do Colégio Módulo. Assim, a escola fez uma pesquisa com os pais e analisou o perfil dos alunos fora do ambiente escolar. O objetivo era confeccionar roupas práticas e contemporâneas, sem perder a finalidade original.

Blusas "baby look" para as mais velhas, vestidos estilo jardineira para as pequenas e bermudas largas para os garotos foram alguns dos itens que integraram o armário dos alunos do Módulo. Antes, os estudantes costumavam até a customizar os tecidos. "Recortavam a lateral da bainha para deixar a boca da calça mais larga e compravam a camiseta menor para parecer mais justinha", recorda Maria Paula.

Na sede Batel do Colégio Dom Bosco, há dois anos 50 modelos são oferecidos aos alunos. Modelos retrô na educação infantil, como o short balonê, ou a calça legging entre as adolescentes, fazem sucesso. Entretanto, as diferenças entre um item e outro às vezes é mínimo, como a existência de um capuz, de um zíper ou de um bolso. Ainda assim, esses detalhes permitem que os adolescentes possam optar pelo que melhor lhes agrada ou pelo que melhor se adapta ao formato do seu corpo.

"Alunos com o pescoço mais grosso muitas vezes odiavam usar gola redonda. Agora oferecemos também gola V", explica a diretora Celia. As opções são tantas que já se formam tendências de moda nos corredores da escola. "Eles podem criar o seu próprio estilo com as peças", diz Celia.

Segurança é assunto polêmico
Quando um aluno tem problemas fora da escola, estar uniformizado pode ajudá-lo. Tanto a diretora da sede Batel do Dom Bosco, Celia Bitencourt, quanto a coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental I do colégio Módulo, Maria Paula Nicolini, apostam na roupa com o logotipo da instituição como ponto positivo para manter os estudantes seguros.

"Se acontece algo na rua, como um desmaio, há uma referência, as pessoas sabem para quem ligar", diz Maria Paula. Também é mais difícil um desconhecido se fazer passar por estudante dentro do colégio.

Entretanto, escolas que não obrigam o uso da vestimenta também justificam essa escolha com a busca pela segurança dos seus alunos. Henrique Vailatti Neto, diretor do colégio FAAP, de São Paulo, que não obriga a utilização de roupas iguais, tem a mesma opinião do padre Guido Kuhn, do colégio Anchieta, de Porto Alegre.

"Ao estar facilmente identificável, o aluno pode ser visado para assaltos", afirma Kuhn. Dessa maneira, é mais fácil saber para onde aquele jovem está indo e, no caso de instituições particulares caras, fica claro que a família do estudante tem uma boa condição social.

Como lidar com alunos que não querem usar uniforme
Fazer o aluno entender que há regras a serem seguidas é importante. Porém, quando o estudante chega à sala de aula sem o uniforme, como proceder? De acordo com a diretora pedagógica da editora Saraiva, Francisca Paris, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é proibido colocar uma criança em uma situação constrangedora e impedi-la de assistir às aulas.

Não só por uma questão legal, mas pelo fato de o objetivo principal da escola ser ensinar conteúdos, Francisca aconselha manter na instituição alguns conjuntos de roupa extra. "Algumas bermudas com elástico, algumas calças de abrigo e camisetas. Assim, se o aluno quiser bancar o espertinho e ir sem o uniforme, depois da primeira vez ele já saberá que ainda assim terá que usar a roupa, já que o próprio colégio mantém uns para emergências", afirma.

Caso a criança apareça sem uniforme por desorganização ou desinteresse dos pais, é fundamental chamá-los na escola e orientá-los sobre a importância de respeitar a regra.

Fonte: Terra Educação

Nenhum comentário:

Postar um comentário