Os tempos pós-modernos evidenciam, cada vez mais, o culto à imagem, ao belo, evidencia a rapidez e influência da tecnologia, a especulação financeira pelos caminhos virtuais, a busca pela inovação. Mas a contemporaneidade também apresenta a descrença e desvalorização de muitos conceitos éticos e morais, a vulnerabilidade nas relações interpessoais, a exigência de cada vez mais habilidades e competências profissionais em todos os segmentos, na busca da famosa produtividade.
Os sujeitos dos tempos atuais têm que PRODUZIR! Produzir dinheiro, produzir lucro, fazer o trabalho de muitos em uma só função, produzir títulos acadêmicos, enfim, somos exigidos a não parar de pensar, construir, reformar, investir, agregar etc. Nesta sociedade de consumo imediato, de valores associados ao belo e ao perfeito, à produção em série e lucrativa, estamos esquecendo de PRODUZIR relações humanas saudáveis, estamos deixando de fazer amigos que não sejam os virtuais, estamos deixando de lado o papo no fim da tarde e o passeio de mãos dadas. Em lugar disso, estamos correndo demais, resolvendo tudo pela internet, estamos almejando ter um corpo escultural jamais alcançável, estamos comendo mal e dormindo pior ainda...
Nesta urgência de repensarmos aonde vamos chegar com tanta “produção”, é que a Educação reconstrói o seu papel fundamental: o de formar valores, socializar, trilhar um caminho de conquistas para seus educandos. A Educação é o percurso de nossas próprias vidas! Na Escola, onde passamos grande parte de nossa formação educacional, aprendemos – ou deveríamos aprender - a compartilhar conhecimentos, a dividir brinquedos e brincadeiras, a pesquisar com diversos recursos; aprendemos a falar e a ouvir.
Peço licença ao leitor para falar sobre estes dois últimos aspectos, que me parecem de fundamental relevância nos dias do século 21. Nestes tempos onde a vida humana vale tanto quanto um tênis, quando se cometem crimes tão bárbaros que temos que recorrer a passagens bíblicas para explicá-los, quando briga-se por causa da demora no atendimento de um caixa de supermercado, ter habilidades de interlocução com o próximo é mais do que uma necessidade: é a melhor produção que alguém pode desenvolver!
E quem melhor do que o professor – agente da aprendizagem - para desenvolver estas habilidades junto a seus alunos? Realmente, quando um autor citou: “Educação, a profissão do futuro”, ele estava profetizando... Esse futuro chegou! Hoje, o professor está em um lugar privilegiado, pois tem acesso às possibilidades de mudança desta cruel realidade instituída. Cabe a ele, a tarefa de educar verdadeiramente, sabendo escutar o seu aluno, respeitando-o em seus desejos, fazendo-se sedutor para ser ouvido, divulgando valores positivos através da sua fala.
Dimensionando seu poder de ação, os professores podem agir mais atentamente. Podem ajudar aos seus alunos no aprendizado da tolerância, na capacidade de ouvir e de se fazerem ouvidos, no respeito às regras do outro, no convívio em sociedade, nas ações para a melhoria da sua escola, da sua cidade, do seu país. Cabe ao professor fazer-se sedutor para este aprendizado... Se seus alunos lhe conferem um saber, deve usufruir desta posição sem tornar-se autoritário, numa figura de que tudo-sabe, tudo-manda. O professor deve ser também um investigador nas suas atitudes: deve saber ouvir, entender o que seus alunos precisam, compreender as fases de desenvolvimento deles para melhor adaptar seu ensino. Sendo bom ouvinte, o professor vai formar bons ouvintes com seu exemplo. Sendo amável, seu aluno saberá muito mais da arte das boas maneiras no trato com as pessoas. Sendo comunicativo, verá florescer alunos criativos, falantes, dinâmicos na tarefa da expressão.
Em tempos atuais, o professor e a escola são esperanças de novas relações. Esperança de uma geração que saiba dividir mais o seu pão e estragar menos comida. Geração que saiba consumir com mais moderação e ostentar menos roupas e tênis da moda. Geração que saiba respeitar os mais velhos e AMAR ao seu próximo como a si mesmo e que NUNCA MAIS espanque empregadas domésticas, queime índios, violente moradores de rua ou jogue filhos pela janela num ato que vai além das palavras.
Ele pode deixar que seu aluno reconheça o seu interesse em modificar esta realidade, falando com mais docilidade, sendo mais solícito, sendo mais amável, mais prestativo, menos competitivo, menos rude. O Maestro-professor pode deixar que seus alunos vejam o seu melhor: o seu poder de falar e ouvir a todos, com amor e afeição, afinal, é isso que nos alimenta no desejo de aprender!
Em meu humilde anonimato, só vejo esta saída para tantas exigências, tantos crimes, tantos desafetos: o carisma e o amor de cada um de nós, PROFESSORES, pelos nossos alunos – o futuro desta geração. Amar não é ser passivo. Amar é olhar nos olhos, dizer as necessidades, compartilhar medos e tristezas, relatar alegrias, chamar a atenção, indicar o caminho certo quando o outro insiste em ir pelo errado. Amar exige muitos cuidados, exige zelo, exige trabalho. Amar é, acima de tudo, deixar aflorar o seu carisma, ou seja, aquilo que há de melhor em você mesmo, as suas potencialidades, as suas habilidades.
Amando, o professor será amado. E isso gera um círculo virtuoso para todas as relações humanas. Educa-se melhor quando se educa pelo exemplo. Respeite e serás respeitado. Faça o correto e verás a retidão. Seja um ótimo Maestro e terás a melhor orquestra, com os melhores músicos, tocando melodias capazes de hipnotizar até os corações mais petrificados. Seja, portanto, um verdadeiro Maestro-Professor!
Referência bibliográfica:
FREUD, Sigmund (1914). Algumas reflexões sobre a psicologia do escolar. Edição Standart Brasileira das Obras Completas, vol.13, Rio de Janeiro: Imago Editora, 1980.
Gabriela Abreu da Silva Gouvêa,
Pedagoga (UFF), Psicopedagoga (PUC-RJ) com especialização em Neuropsicologia (CNA), Mestre em Psicanálise, Saúde e Sociedade (UVA).
Endereço eletrônico: gabiabreu78@yahoo.com.br
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