domingo, 22 de maio de 2011

Como falar às crianças sobre sexualidade?

Em muitos casos, a criança está somente imitando uma situação que viu, sem a malícia que nós,adultos, temos. Assim, sensatez e jogo de cintura são necessários para lidar com a situação.

Parece que, a cada ano que passa, as crianças se mostram mais espertas. Também pudera: assim como nós, adultos, elas também estão cercadas de informações, sejam elas vindas da TV, músicas, internet, ou mesmo de colegas e familiares; das mais diversas temáticas.

Freud, há quase um século, descreveu sobre a sexualidade infantil, provocando uma reação assustadora em muitos membros da sociedade. Graças a ele, hoje sabemos que o desenvolvimento da sexualidade humana começa com o contato físico, ou seja: quando ainda somos bebês, ao sermos segurados e acariciados; e que os atos de comer, urinar e defecar trazem grande prazer à criança.

Na atualidade, em muitas escolas, tal tema tem sido debatido, mas nem sempre educadores se sentem realmente seguros para direcioná-lo – ainda mais quando se trata de perguntas ou atitudes que exigem uma resposta ou intervenção rápida.

Diante do exposto, esse texto tem como objetivo auxiliar pais e professores quanto a isso. Uma justificativa adicional é o fato de que reprimir ou dar respostas erradas, provavelmente, fará com que a criança busque tais informações em outras fontes, o que pode fornecer respostas incorretas, ou mesmo expô-la a riscos desnecessários. Assim, criar um canal confiável de diálogo é fundamental e, para tal, pode ser interessante que pais e professores atuem em conjunto.

Provavelmente, a primeira dúvida manifestada será em relação aos órgãos genitais, como a diferença anatômica do pênis e da vagina. Utilizando os termos corretos, evitando apelidos, palavrões ou palavras de duplo sentido, farão com que as crianças percebam que se trata de algo sério e natural.

Não reprimir quando se tocam em tais regiões, mas, ao contrário, conduzi-las, sutilmente, a outras atividades, ou dizer que tal atitude incomoda o colega e/ou não é adequada àquele momento e lugar – assim como urinar ou defecar; são medidas mais sensatas do que simplesmente proibir. Até porque é inegável que, de fato, mesmo sendo crianças, são capazes de sentir prazer manipulando seus órgãos genitais. Assim, como explicar que algo que dá prazer é errado, ou feio? A malícia, na grande maioria dos casos, parte de nós, e não delas. Dessa forma, se se tratar de uma situação na qual a criança está se tocando, por exemplo, no banheiro, sozinha, a situação não deve ser reprimida e, tampouco, supervalorizada.

As respostas às perguntas devem ser feitas em uma linguagem acessível, de forma clara e objetiva, dizendo de forma simplificada exatamente o que a criança deseja saber, sem antecipar dúvidas. Caso não saiba a resposta (ou como responder), seja sincero, e busque o mais rápido possível dar esse retorno, ao invés de fingir que se esqueceu.

Quanto ao receio de estimular a criança de forma errônea, e antecipadamente, ao se trabalhar sobre a sexualidade, muitos estudos apontam que, na verdade, indivíduos bem esclarecidos tendem a adiar o início de sua vida sexual já que sua curiosidade já foi, em parte, saciada, e existe a ideia clara de que ir mais adiante requer responsabilidades e limites. Além disso, crianças esclarecidas tendem a ter risco significantemente menor de serem abusadas, já que sabem que troca de carícias e sexo deve ser algo consensual, entre pessoas mais velhas e, preferencialmente, envolvendo amor.

Outra atenção especial é quanto aos estereótipos atribuídos a homens e mulheres, ignorando o senso de diversidade. O foco deve ser dado nos aspectos que tangem as semelhanças e diferenças físicas, reforçando que ambos os gêneros devem ter oportunidades iguais, e respeito mútuo. Sobre isso, sugiro a leitura deste texto, de Lola Aronovich: uma produção muito interessante, que fala sobre uma campanha equatoriana contra o machismo, iniciada em 2008, e disponibiliza seus vídeos.

Sugestão adicional:

Outro material que poderá auxiliar os educadores é o livro “Mamãe Botou um Ovo”, de Babette Cole.

Por Mariana Araguaia
Bióloga, especialista em Educação Ambiental
Equipe Brasil Escola

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