terça-feira, 19 de abril de 2011

Artigo Livro-arbítrio

Gabriel Perissé


Livro-arbítrio é saber escolher os livros que nos tornem livres.

Livro-arbítrio é exercer o livre-arbítrio no terreno movediço das vidas impressas.

Livro-arbítrio é economizar em doces, em secos e molhados, para adquirir bons livros, mesmo que a preços salgados.

Livro-arbítrio é criar uma biblioteca pessoal ou familiar, em que possamos encontrar os grandes manuais de instruções da humanidade, os mapas que nos orientem em nosso caminho existencial.

Se me perguntassem que livros faço questão de guardar em minha biblioteca, começaria pelo dicionário.

O pai-dos-inteligentes é uma arca de tesouros escondidos. Certa vez eu vi um professor meu folheando e lendo um dicionário. Foi uma visão inesquecível. Ele não estava consultando o dicionário em busca de um verbete concreto. Estava simplesmente se deliciando com palavras inesperadas, com um falbalá, com um ignífugo, com uma arcubalista...

O livro-arbítrio leva-nos a fazer investimentos certeiros. Não é preciso ler todos os livros, mas apenas aqueles 400 ou 500 essenciais que hão de abrir as cadeias da ignorância, do medo e do preconceito.

A coragem de criar de Rollo May. Esse é um título que pode fazer muito bem a todo aquele que deseja viver esteticamente, e sair de si mesmo, no sentido etimológico da palavra êxtase: libertar-se da falsa dicotomia entre sujeito e objeto que afeta a maior parte das atividades humanas.

Outro: o Elogio da Loucura, de Erasmo de Roterdam. Um clássico da ironia. Dele, por exemplo, retiro uma frase que é de tal bom senso que apenas um louco poderia concebê-la: "Só se costuma defender a verdade quando não se é atingido por ela."

João Guimarães Rosa e seu inesquecível Grande Sertão: veredas. Outra obra que vale a pena trazer para dentro de casa. E, para morarem conosco, Riobaldo, Zé Bebelo, Diadorim, Hermógenes, Compadre meu Quelemém, Joca Ramiro... gente brasileira, gente verdadeira.

Há outros livros, e cada um de nós deve exercitar o livre-arbítrio (e a consciência) para criar um catálogo de clássicos pessoais.

Recentemente, incorporei (com atraso, reconheço) ao meu o famoso Como vejo o mundo, de Einstein, inteligente convite para construirmos uma coerente visão de mundo.

Em suas páginas, li uma passagem que me acompanhará para sempre: "a luta pela verdade deve ter precedência sobre todas as outras lutas."

Pouquíssimas palavras sintetizando o que tantas outras, demagógicas, tentam ocultar-nos todos os dias.

Gabriel Perissé é professor universitário, escritor, mestre em Literatura e estará presente no Educativa Brasil, Seminário Internacional de Educação que acontece entre 05 e 07 de outubro, no Minascentro, em Belo Horizonte.

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